O tal Pão do Tatu




Meu amigo Tatu - que faz muito tempo que não o vejo, inclusive - um belo dia, há muitos séculos atrás, quando eu morava em São Paulo e nos aglomerávamos em festinhas em casa, botecos e afins, me ensinou a receita que, simplesmente, mudou minha vida!

Era um pão rústico sem sova, de massa bem mole, que era assado dentro de uma panela quente e que revolucionou minha vida.

As primeiras receitas ficaram uma porcaria. Essa história da massa ser bem mole e depois ainda ter que ser assada dentro de uma panela de ferro - e bem quente, não combinou muito com minha falta de jeito no quesito fazer pães, e tive que me virar e buscar uma alternativa que funcionasse para mim. Estava determinada a conseguir, pela primeira vez, a fazer um pão que eu conseguisse comer e virar autossuficiente.

Por anos e anos, eu fiz o pão do Tatu. Não só fiz o pão como passei a receita para todo mundo que o comia e me perguntava como fazer. Só que, de dois anos pra cá, quando eu passei a fazer os pães de fermentação natural e substituí a receita do meu integral da UEBA (sim, eu vendi muitos desses pães e eles eram um sucesso!!!) por uma outra que eu criei com o levain, eu nunca mais fiz essa receita! E não tenho ela anotada em nenhum lugar, e vou ter que contar com minha cabeça de vento para recordar a receita.

Em época de quarentena, com as pessoas trancadas dentro de suas casas, tendo que sair o mínimo possível, não está tão fácil assim dar aquela passada na padoca mais próxima e arrematar um francês quentinho. E estou vendo a galera desesperada por uma receita fácil de pão. Como esse pão transformou minha vida - pra melhor - eu tenho certeza de que ele vai ajudar muita gente também.

Então, vamos aos ingredientes.
Mas antes, uma observação: esta receita rende dois pães de uns 400g cada e eu asso os pães em formas de bolo inglês, justamente para não ter que modelar uma massa tão úmida quanto essa e nem colocar pra assar na panela de ferro, pra fazer um dutch oven que não vou explicar aqui não.
Ah, faça esse pão antes de ir dormir. Você prepara a massa e ela vai fermentar a noite toda. Quando acordar, finalize e asse. Vai comer pão quente no café da manhã.

3 xícaras de cha de farinha branca
1 xícara de chá de farinha integral (podem ser duas de cada tambem)
(opcionais que dão um tchans, sabor e fibras em geral: adicionar uns grãos aí no meio, aveia, linhaça, semente de girassol ou de abóbora, castanhas.... quantidades? ah, pode ser uma colher de sopa de cada grão, mas não exagere. Se não quiser colocar, não precisa)
2 xícaras de água morna (especialmente se estiver frio)
2 colheres de sopa de azeite (e não óleo)
1 colher de chá de sal
1/2 colher de café de fermento biológico (nossa, que pouquinho!!! isso, pouquinho mesmo, pois esse pão vai ter a fermentação bemmm lenta)

Coloque os secos numa bacia (ou tigela, bowl ou coisa que o valha). Misture bem os ingredientes.
Faça um buraco no meio dos secos e acrescente a água e o azeite.
Misture os ingredientes. Você vai começar usando uma colher de pau mas depois o legal mesmo é incorporar com as mãos.
A massa vai ficar pegajosa e você vai achar que aquilo não vai dar pão de maneira nenhuma.
Entrega e confia.
Depois que você misturou tudo muito bem, cubra a tigela com plástico filme e deixe dentro do seu forno DESLIGADO, para que o pão fermente lentamente durante a noite.
Vá dormir. Sonhe com seu pão crescendo lindamente, fermentando e se transformando.

No dia seguinte, com uma espátula (tipo pão duro), de uma desinflada na massa (raspe em volta para que o ar saia e a massa, que já vai estar fermentada nesse momento, volte ao tamanho original).

Como eu falei anteriormente, eu acho mais fácil assar dentro de duas formas de bolo inglês, mas se você não tiver, dá pra assar numa forma de buraco, daquelas que a gente usa pra fazer pudim. Unte a forma com uma camada fina de óleo.

Se for fazer em duas formas, divida a massa irmamente entre as formas. Deixe elas em cima do fogão para que cresçam antes de ir pro forno. Eu gosto de colocar uma cobertura de grãos, pois da um saborzinho extra e deixa os pães bem mais charmosos. Gergelim funciona super bem, mas rola colocar um mix de grãos (compra separado, junta tudo num vidro e vai usando - gergelim preto e branco, chia, flocos de centeio, sementes de abóbora sem casca e girassol, quinoa, etc)

Em seguida, ligue o forno no máximo.
Na grade de cima do seu forno, coloque uma tigelinha com água. Conforme o forno for esquentando, vai liberar um vaporzinho que vai ajudar na crocância da casquinha do pão. Essa parte é importante, viu!
Depois de 30-40 minutos de forno esquentando e pãozinho crescendo, coloque-o para assar em forno alto mesmo.
Ele vai demorar uns 40 minutos para ficar assado. Vai ser mais ou menos essa hora que sua cozinha vai ser inundada por um cheiro delicioso de pão, ou melhor, do pão que você fez com suas próprias mãozinhas.

Quando terminar de assar, retire o pão imediatamente da forma (por isso ela precisa ter sido bem untada com óleo, para que o pão saia e não perca sua integridade física e moral!) e coloque-o para esfriar em cima de uma grade, que pode ser a do fogão mesmo.

Neste momento, suas lombrigas estarão completamente atacadas e você vai ter que resistir bravamente à vonde de cortar o pão ainda quente e tascar um naco de manteiga nele. Respira, colega, e vai botar a mesa, passar um café, aproveira e pica umas frutas. Capricha, pois vai ser seu primeiro café da manhã com pão feito por você, bebê.

Passou meia hora de descanso, tá liberado. Já aviso, a ponta do pão é de quem faz, talkey?
Depois me conta se ficou bom.
Espero que essa receita signifique sua emancipação no que diz respeito a pão.
Ela salvou minha vida, juro!
Empoderamento, a gente vê por aqui!

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